segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A oração (os cinco sentidos)

Primeiro é ber
Segundo oubir
Terceiro cheirar
Quarto gostar
Quinto apalpar

O que é ber?
Os pecados que cometemos
Para os ir confessar
A um confessor que escolhermos

O que é ouvir?
A missa com atenção
Estar a ela com atento
E fugir da murmuração

O que é cheirar?
Os falsos gostos da vida
Para os ir gozar à glória
Que Deus nos tem prometida

O que é gostar?
Do santíssimo sacramento
E recebê-lo com devoção e atento

O que é apalpar?
O corpo com abstinência
Abri-lo com cilícios
E apertá-lo com penitência

Mariana de Jesus
(90 anos em 10-08-2009)

A oração era ensinada aos garotos de Gondesense, na doutrina, ministrada pelo tio quatro.
Além de ensinar os garotos também rezava a via-sacra.
Este não tinha o olho esquerdo e metade do nariz, porque tinham sido comidos por um porco, no berço, quando era bebé.
(recolha feita pelo Rogério e pela Luisa)

Pão caseiro

Cozer pão é, quase, um ritual religioso. Elas rezam quando a massa vai levedar e quando metem o pão no forno.As orações não são bem iguais mas o sentido é o mesmo... Depois de amassar aconchega-se a massa entre lençóis e mantas para a manter quentinha e rezam, fazendo três cruzes com a mão:

- São João te faça bom pão
E São Mamede te levede
Em louvor de Deus e da Virgem Maria
Um Pai Nosso e uma Ave Maria

Diz a Maria do Rosário que aprendeu com a mãe, senhora que no seu tempo cozia grandes fornadas de pão pois a familia era numerosa... Mas a Manuela que é do concelho de Vinhais, casada em Gondesende, diz:

-São João te faça bom pão
E Santa Marinha te traga a anjinha
Em louvor de Deus e da Virgem Maria
Um Pai Nosso e uma Ave Maria.


Enquanto o pão leveda , acende-se o forno, que se mantem a arder durante um bom "pedaço".... Quando a "palameira" do forno já está branca,varre-se com um vassouro de "canileiro"e tiram-se as brasas que sobram. Com o pão já "levedo", "finge-se" fazendo da massa as "bôlas" que se metem ao forno. Com a pá fazem-se três cruzes na boca do forno, dizendo:

- São João te faça bom pão
E São Vicente te acrescente
Cresça o pão no forno
E a Paz em casa do dono
E a Paz pelo Mundo todo
Com a graça de Deus e da Virgem Maria
Um Pai Nosso e uma Ave Maria.
- Diz a Maria do Rosário.

A Manuela por sua vez,reza:
- Cresça o pão no forno
O bem pelo Mundo todo
E a Fortuna em casa de seu dono
Em louvor de Deus e da Virgem Maria
Um Pai Nosso e uma Ave Maria.

Mas por "pirraça", há alguém que diz:

São João te faça bom pão
E São Bento te acrescente
E tanto cresças tu como as "cachas" do meu cu...

Em Gondesende não há casa que não tenha forno, havendo ainda muita gente que gosta de cozer pão. Quando, no Inverno, anda muita gente a cozer, paira no ar um cheirinho de "esteva a arder", que desde sempre está guardado na nossa memória.

- Ó mulher, onde vais tão ligeira?
- Tou com pressa, trago o forno a arder...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A caminho de Soeira

- Bonjour! Soeira, s'il vous plait! Pergunta o casal de franceses à entrada da aldeia.

Alguém responde, prontamente, com vontade de ajudar:

- Não há que enganar! Atravessam a aldeia, descem o Pomar, passam à Carramana, nas Barrondas, e descem p'ro rio. Atravessam a ponte, sobem Maquieiros e do outro lado do monte, fica Soeira...

O casal agradece e parte decidido. Fica a dúvida! Será que eles entenderam as indicações ou não quizeram ficar "mal vistos".
Se a intenção, era a aventura e a descoberta, encontraram o sítio certo!
O maior problema é que no meio do monte não há placas para indicar o caminho e muito menos gente a quem perguntar. Mas, se porventura, encontrassem algum pastor, as indicações seriam as mesmas... Não há que enganar!!

O entardecer em Gondesende

Os dias de Verão são longos. É preciso madrugar para aproveitar a frescura da manhã e evitar o calor abrasador da tarde...

O fim do dia "tarda" mas não há maior prazer do que, após um longo dia de trabalho, sentar-me na varanda, espreitar por entre as árvores, e apreciar o pôr do Sol em Maquieiros...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os Carabelhos da aldeia


Hoje em dia já se procuram no comércio de Bragança os cadeados e aloquetes para manter fechadas as portas das lojas e palheiros. Contudo, em Gondesende ainda se podem encontrar muitos carabelhos, muitos deles construídos por carpinteiros habilidosos da nossa aldeia.

Pena é que alguns dos carabelhos mais bonitos já se tenham perdido, principalmente aqueles que tinham truques e segredos que os tornava quase tão seguros como as fechaduras e aloquetes.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Os doces da Ana

O Outono está a chegar.
Está na altura de apanhar a fruta que se deve guardar sobre a palha para se conservar durante mais tempo e suportar o frio do longo Inverno.
"Não se pode perder nada...", por isso vamos aproveitar e fazer os tão saborosos doces com a fruta da época... Que sabem tão bem com o nosso pão caseiro.

DOCE DE AMORAS SILVESTRES
- 1 kg de amoras silvestres, 300 g de açúcar, 1 pau de canela e 1 limão.
Lave muito bem as amoras. De seguida, coloque numa panela as amoras junto com o açúcar, o pau de canela e o sumo do limão; leve a lume brando. Vá mexendo para não queimar até ficar o açúcar derretido. De seguida, triturar com a varinha mágica e passar por um coador para tirar as sementes das amoras. Leve de novo ao lume até obter um aspecto consistente tipo mel. Deite o doce em frascos que deve fechar sem este ter arrefecido.

DOCE DE MELÃO
- 1 Kg de melão, 300 g de açúcar e 1 laranja
Descasque o melão retirando apenas a parte exterior verde e dura e as pevides.Corte a polpa em cubos pequenos e junte 1/3 do peso em açúcar.Deite a mistura num tacho sobre lume brando.Logo que comece a ferver vá retirando a espuma, com a ajuda de uma escumadeira.Mexa para evitar que se pegue, mas faça-o com cuidado para não esmagar os cubos de melão.O doce está pronto quando o melão se torna translúcido e amarelo -pálido.Junte a casca da laranja partida em tirinhas muito finas, o sumo da laranja e mexa com precaução. Deixe ferver 15 minutos mais.Deite o doce em frascos e feche.
* Bom para aproveitar melões poucos perfumados.

DOCE DE PÊRA E MARMELO
- Peras, marmelos e açúcar
Descasque a fruta tirando os caroços e as pevides, partir aos cubos pequenos e utilizar mais peras do que marmelos. Pese e junte 1/3 do peso em açúcar.
Colocar a fruta e o açúcar num tacho que deve ir a lume brando. Mexa, algumas vezes para evitar que se pegue mas faça-o com cuidado para não esmagar os cubos da fruta. Deite o doce em frascos que deve fechar sem este ter arrefecido.
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domingo, 6 de setembro de 2009

O jantar de Javali na casa do povo


O termo de Gondesende sempre foi muito rico em caça. Os nossos avós, muitos deles caçadores, sempre encontraram muitos coelhos, lebres e perdizes, quer os procurassem nas touças de Maquieiros, quer no Sardoal, nas Barrondas, no Monte Escuro, ou mesmo nas touças de à Costa.

Os corsos sempre foram mais difíceis de encontrar e os javalis chegaram a estar praticamente extintos. Depois veio a doença dos coelhos, os fungicidas para calar o trigo de semeadura que matava as lebres e, por último, regressaram os javalis vindos das terras espanholas. Estes últimos são hoje abundantes e responsáveis por muitos estragos, quer nas culturas, quer nas criações de coelhos e perdizes.

Os caçadores são hoje menos e as caçadas são também menores. O povo está hoje mais sensibilizado para a protecção da caça. Os corsos e javalis já se avistam ao fim das tardes a pastar à Costa. Para controlar a população de javalis recorre-se às batidas onde o Albino tem sido um dos caçadores que representa a aldeia com grande proa.

Os javalis caçados que ficam na aldeia são depois cozinhados no pote à maneira de antigamente e comidos por todos aqueles que respondem ao convite. No passado fim de semana decorreu mais um convívio na casa do povo e além do apetitoso javali foi também agradável ver como todos conviveram. Desta vez o convite partiu do nosso presidente da junta e vieram também vizinhos de Portela e Oleiros.