Contavam os mais velhos que nasceu uma vez uma criança na aldeia que durante a sua infância revelou alguns problemas de fala. Ainda que crescesse e brincasse como as outras crianças não havia maneira de começar a dizer as primeiras palavras. Como na altura não havia terapeutas da fala e os médicos escasseavam, as famílias procuravam nos chás e mezinhas a cura para os males que apoquentavam os seus. Quando isto não era suficiente ou a maleita mostrava resistência, então recorria-se aos Santos pedindo apoio e cura. E assim foi com este caso.
Dizia a tradição que o S. Fagundo, santo residente em Vinhais, tinha o condão de resolver este tipo de problemas. A mãe preparou então a viagem a Vinhais e juntou à merenda um galo vivo para pagar a ajuda do Santo. Lá foi a mãe e a criança de abalada para visitar o São Fagundo. Conta a tradição que mal o petiz avistou o campanário da igreja se lhe soltou a língua e disse claramente: "...ó mãe C...lho, não dês o galo ao santo...".
Depois disso não houve mais problemas de expressão e a criança cresceu e tornou-se num homem da terra. Dizia por vezes que trazia sempre no bolso um pedaço de pão pois não queria que nenhuma bruxa o visse quando estava em jejum. Mais tarde um seu descendente dizia com piada quando a mãe lhe dava milhos doces, "...comi milhos doces e pixima quinela..."
Eram estas estórias que na nossa infância, nas longas veladas de inverno à volta da lareira, os mais velhos nos contavam, pois nesse tempo não havia televisão ou rádio e a iluminação ainda era a candeia...