domingo, 30 de janeiro de 2011

A vida de pastor

Hora da refeição do mais pequeno, rebanho do Vermelho na corriça
em Espinhosela.



O pastor de Sabariz na festa de
Gondesende.
O ganapo era atraganado, não fosse ele de Portela. Lingrinhas e com o cabelo arruçado era muitas vezes chamado por ruço-do-mau-pelo ou pelo estopas. Mas tinha bom feitio e a língua pronta e não deixava ninguém sem resposta. Filho de uma família grande e com poucos recursos veio para Gondesende servir na casa do tio Gaudêncio. Durante o dia ia à escola, deitava as vacas e fazia os mandiletes às tias. Ao começar a escurecer levava o jantar ao pastor e trazia o leite para o sr. Abade e a srª. Professora. Levar o jantar ao Festas que andava com o rebanho de cabras do tio não era aquilo que mais gostava de fazer e muitas vezes se dormiu na beira do caminho e ficaram o pastor e os cães sem ceia. Com os pés descalços e o corpo cansado dormia-se ao toro de qualquer carvalho e só o movimentos da manhã, quando as pessoas saiam para o campo, o acordava. Com a sopa fria e sem o leite despejava os latos no chão e regressava a casa. Ele conhecia como poucos as dificuldades da vida de pastor e a riqueza que é um rebanho.
Mais tarde, já espigadote, quando ficou sem pai e teve que assumir a direcção da casa tratou logo de arranjar um gado e pedir ao irmão que o guardasse. O Xico era a pessoa talhada para o lugar pois era tímido e reservado mas ao mesmo tempo responsável e dedicado. Assim ficou traçado o destino do irmão que veio a revelar-se um bom pastor, profissão que abraçou durante algumas décadas.

O Manel Quintas filho do  tio César  de Portela (ex-pastor) na Santa Rita.

Tratar de um rebanho exige alguma sabedoria e muita dedicação. Conduzir ovelhas é como conduzir pessoas. As mais lambonas estão sempre atentas à mão do pastor na esperança de um pedaço de pão e quando o apanham seguem-no logo à espera de outro. As outras, menos informadas, seguem-nas por simpatia. E quando no fim de um dia de pasto pobre se passa ao pé de um lameiro com Outono e o pastor apanha as ovelhas com chocalho e os cala com umas folhas de carvalho. Nessa altura para a conversa, sem chocalhos e sem balir o rebanho aproveita para encher a pança. Como se diz que o pastor não rouba para levar no bolso eram muitas vezes repreendidos sem castigo.
Outra função do pastor é o planeamento familiar das ovelhas para evitar que os cordeiros nasçam durante os dias geadeiros. Para isso vestem os marões com sacas de adubo procurando que aquele aspecto de cozinheiros dificulte o namoro. E quantas vezes o pastor não é também o parteiro e tem que levar o recém-nascido ao colo. Trata-se pois de um trabalho diário que não permite domingos nem friados.

O tio Francisco que Deus tenha, pastor da casa de Portela.
Hoje em dia já são poucos os gados da freguesia pois já se contam pelos dedos de uma mão aqueles que possuem paciência para estas andanças. Em Gondesende há muito que não há gado, em Portela o gado do César desapareceu com o dono, ficou o gado do Lita (dos Gonçalos) e do Aníbal, ainda que este último também já tenha sido vendido. Em Oleiros há muito que só a filha do Charcas tem ovelhas. Há ainda alguns pastores conhecidos, ainda que de outras aldeias, como é o Vermelho de Espinhosela e o Pessanha de Sabariz. Mas fica sempre bonito ver um grande rebanho na paisagem a pastar sossegadamente ao fim da tarde.

O rebanho da filha do Charcas de Oleiros a pastar na lameira de
à fonte de ó  Cabo em Gondesende.

As cancelas do rebanho de Oleiros.


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