No meio do verde e do silêncio encontramos o moinho que há muito tempo está abandonado no meio do nada...
Há uns anos atrás, durante o Inverno, a aldeia utilizava o moinho de Duçãos, mais perto da aldeia, que se encontra junto ao ribeiro que vem de Espinhosela e que nessa altura leva muita água.
Mas no Verão, quando a água escasseava, carregavam-se os carros de bois, os machos ou a burra com as sacas de grão e lá íam para a Veiguinha onde se encontra o moinho do Povo. Casa construida em pedra solta junto ao rio Baceiro que além de moagem servia muitas vezes de abrigo. Naquele tempo, após a cegada e a malha e já com as arcas cheias de pão não davam descanso ao rodizio.
O trabalho era moroso e só se regressava à aldeia depois de moer todo o grão que se levava. O pão era essencial para a alimentação e tal como diz o velho ditado "... casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão". O moinho de água só funciona se houver um bom caudal de água que faça mover as penas do rodízio. Este, por sua vez, faz rodar a mó de granito, muito pesada, que esmaga o grão, transformando-o na tão desejada farinha. O grão, trigo ou centeio, é colocado na tremóia e caí pela canelha que esta ligada ao tarabelo que tem uma ponta romba encostada na mó. É o trepidar do tarabelo na superfície rugosa da mó que faz cair o grão para o olhal.
A farinha caia para o fareleiro e por fim com uma pá de madeira era metiada nos sacos de pardo que as mulheres faziam nos teares da aldeia.
Enquanto houvesse grão o moinho não parava e durante a noite o sono era acompanhado pelo som repetitivo do tarabelo. Contam as más linguas que quando um casal pernoitava no moinho, o tarabelo sussurrava no ouvido do "moleiro" : vai-te a ela, vai-te a ela, vai-te a ela...
O moinho foi recentemente recuperado assim como o espaço envolvente com o aproveitamento de uma mini-praia fluvial. Assim se conseguiu um espaço aprazível para os apreciadores de uns dias calmos junto ao rio com águas geladas e límpidas.
Mas ainda há quem se lembre do Bonito dà veiginha, moleiro de profissão, que se deslocava às aldeias próximas para recolher o grão em carradas de sacos que o arrocho prendia ao macho. O seu moinho ficava um pouco mais abaixo e o seu trabalho era cobrado pela maquia com que ficava após cada moagem. Ao fim do dia, depois de trocar a farinha por mais grão para moer, montava no macho e lá regressava ao moinho. Tocado por um copinho e cansado da jornada por vezes adormecia em cima do macho que, habituado ao precurso, o conduzia sempre para casa. De manhã e depois do galo cantar a sua Maria lá encontrava o macho a pastar na eira com o moleiro ainda a dormir em cima. Não consta que alguma vez o macho se tenha perdido ou o dono tenha ficado pelo caminho.