quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O Baú das memórias


Este ano o frio tem apertado, já nevou duas vezes e, não fosse a chuva que não para de cair, certamente tudo estaria completamente gelado. Como não se pode sair de casa procura-se passar o tempo junto da lareira  lembrando histórias de outros tempos em que não havia televisão nem rádio e as veladas decorriam entre conversas e umas suecadas. Nesse tempo era sempre bemvindo um bom conversador com novas peripécias e traganices para animar as brincadeiras.
Procurando num álbum de fotografias cá de casa encontrei uma tirada há já muito tempo no final de uma vindima. Nesta fotografia, igual a muitas outras que todos nós temos em casa, podemos lembrar alguns dos nossos vizinhos já desaparecidos mas de quem guardamos muitas e gratas memórias. O tio David, o tio Cerqueira, o tio Silvério e o Francisquinho já partiram mas são ainda da minha lembrança.  Hoje apenas as duas princesas estão connosco, ainda que um pouco mais velhas. O tio Augusto, meu avó materno,  grande animador das camaradas e amigo das traganices, já não conheci embora saiba de muitas das suas brincadeiras por mas terem contado.
O Francisquinho (ou Francisco quinho como ele dizia), ainda que sendo natural de Conlelas, está ainda muito presente nas memórias dos mais velhos. Talentoso tocador de harmónica (lareijo ou realejo como ele lhe chamava) muitas vezes animou veladas e bailes com as suas rapsódias. A sua maneira despreocupada de viver e a forma como negociava a sua jorna em cigarros e um realejo novo,  despedindo-se sempre que chegava a Santa Rita, estão ainda bem vivas na memória dos de Gondesende. Hoje já não é fácil encontrar quem viva desta forma e mesmo assim conquiste a amizade de todos.
Actualmente a televisão tem ocupado o espaço de convivio e reduzido a convivência entre todos. Deste modo se tem perdido muito do vocabulário que ainda se utilizava na nossa infância e as contas e landonas que não ficaram registadas. Contudo, os computadores e a internet permitem que possamos partilhar as fotos antigas e aquilo que cada um de nós ainda guarda na memória. Tudo isto faz parte da nossa cultura e nos identifica como povo, será que estamos dispostos a partilhá-las?

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