O sol acabou de se esconder no cabeço de Maquieiros e a noite cai agora lentamente sobre a nossa aldeia. O dia esteve hoje um pouco mais quente e o horizonte tingiu-se de tons avermelhados antes de escurecer totalmente. Hoje já é raro o mordomo do sino tocar às trindades e esses toques já não anunciam o fim de mais um dia de trabalho. Há tradições que deviam manter-se pelas recordações que nos trazem.
Tal como nos tempos de infância as noites estão ainda povoadas de bruxas, medos e histórias de encantar. Depois do sol se esconder apenas os animais do monte se entregam às suas lides. Nas touças e soutos de Marnuno ouve-se por vezes uma coruja ou o piar de um mocho agoirento. Noutros tempos escutavam-se, nas noites geadeiras de inverno, os uivos dos lobos no Monte Escuro. Esses sim, quando andavam piegos, só de ouvi-los deixavam-nos um arrepio na espinha.
Agora apenas se ouvem, de vez em quando, os latidos (gaugar é o termo que mais usamos) de uma raposa à procura de um galinheiro mal cerrado. Finalmente o sossego, por vezes tão silencioso que até incomoda. Quando o Baceiro leva muita água e o vento sopra a favor ainda se ouve o barulho das cachoeiras. Mas a primavera já vai alta e o rio tem menos caudal.
Como Gondesende fica mais baixo que as aldeias vizinhas depois de escurecer só se avistam as luzes da aldeia de Maçãs. A 8 km de distância em linha recta, lá estão elas sempre presentes a lembrarem-nos que afinal não estamos sós. Por cima o céu estrelado está hoje tão claro que até o caminho de Santiago se vê perfeitamente. Vá, vamos dormir que é tarde e amanhã temos mais um dia de trabalho.
Deus nos dê boa noite...
Deus nos dê boa noite...
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