quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O dia da aguardente

O termo de Gondesende já foi o lagar da freguesia. Nesse tempo Portela, Oleiros e até Espinhosela tinham vinhas nos terrenos das Barrondas, do Vinhago, de Bárrios, ao Barreiro e até no lombeiro dà Costa de onde saiam as uvas com que se produziam as pingas que por cá se bebiam.
Destes terrenos saíram vinhos que, segundo se diz, tinham qualidade que recompensava o muito trabalho que davam a produzir. Nesse tempo todos tinham proa no seu vinho quando convidavam os amigos para beber um copo.
Contudo, a desertificação destas terras levou ao abandono das vinhas e os terrenos, outrora cultivados, estão hoje transformados em touças de carvalhos ou soutos novos. Hoje, as poucas uvas que se colhem são criadas em parreiras junto à aldeia. Aqueles que teimam em manter a tradição têm as tinas e lagares cada vez mais vazios ou compram uvas noutras paragens.
Depois do vinho ferver e de se espremer o bagaço vem o dia da aguardente. Nesse dia trazem-se os potes de cobre para a porta da adega e coze-se o bagaço produzindo a bagaceira para matar o bicho nas geadas manhãs de inverno.
Tempos houve em que se desenjoava com pão centeio nozes e um golo de aguardente.
Outros, como a tia Isaura que Deus tenha, bebiam-na pelo dia fora em pequenos golinhos para aliviar as dores das pernas e assim reduzir o cansaço.
Por vezes metiam-se no pote umas peras de inverno embrulhadas num pano que coziam no vapor e eram depois comidas com açúcar. Esta sobremesa é ainda hoje muito apreciada.
Actualmente já não é por necessidade que se faz tudo isto mas sim pelo gosto que os mais velhos têm de ensinar aos mais novos e assim perpetuar tardições. Por isso os netos e os filhos juntam-se aos pais e avós nestas tarefas onde também já participam as mulheres.

1 comentário:

  1. E que dia tão agradável que é!Sobretudo pelo convívio e também pela sobremesa...hum...:) Ainda bem que nós,mulheres, também já podemos participar...eheh.

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