Os serões à lareira nas noites geadeiras de inverno foram sempre povoados de muitas estórias de bruxas e almas penadas. Dizia-se que em todas as aldeias existia pelo menos uma bruxa, ou alguém suspeito de o ser…O tio David que Deus tenha garantia a pés juntos que em Gondesende eram mais e que nunca saia à rua em jejum. Contava que um dia o tio António dó Cabo tinha acabado de compor um relógio de bolso e alguém, que se suspeitava ser capaz de bruxedos, olhou para o relógio e este parou de imediato. Dizia-se também que se alguém espetasse um prego na sombra de uma bruxa ela não conseguiria sair do lugar! Em Portela as suspeitas recaiam sobre a velha Meireles. Era uma mulheraça, alta, magra e com os pés muito grandes, mas pouco dada ao convívio, principlamente com os catraios. Os garotos não a podiam ver parada ao Sol que logo iam espetar um prego na sua sombra. Mas…claro está! a pobre coitada lá seguia o seu caminho gemendo e andando e nunca houve a mais pequena evidência de bruxedo. Depois de ela morrer muitos disseram ouvi-la gemer quando, durante a noite, passavam à porta dela. Mas a imaginação é fértil quando o medo aperta nas noites escuras como breu.
Contava-se ainda que as bruxas aproveitavam as noites de lua cheia para se juntar numa qualquer encruzilhada e passavam a noite a cantar e a dançar. Num destes encontros participou um marreca que vinha de Espinhosela e ao chegar à Cruz de Paio, já perto de Gondesende, encontrou um baile animado em que participavam algumas mulheres que ele conhecia. Não sabendo do que se tratava decidiu juntar-se à festa e começou a cantar junto com elas: terças e sextas, terças e sextas…
No fim do baile uma delas disse: que é que lhe vamos dar por tanto nos ajudar?!
A marreca lhe havemos de tirar - foi a resposta que todas gritaram. E o homem logo ficou desempenado e sem o “pão” que tinha nas costas. No dia seguinte, ao sair da missa, um vizinho que padecia da mesma maleita pergunta-lhe o que ele tinha feito para estar tão direitinho. E ele em segredo contou-lhe a estória que se tinha passado. O marreca logo disse: então, também lá vou! E foi. Meteu-se no baile das bruxas e procurando ganhar mais qualquer coisita… cantava: terças e sextas, sábados e domingos também, terças e sextas, sábados e domingos também… No final, como da outra vez, uma das bruxas diz: e a este ? O que lhe havemos de dar pelos dias que nos acrescentou? Responderam todas em coro: a marreca que o outro deixou! e o homem lá ficou com a sua marreca acrescentada.
Mas pior do que bruxas, bruxedos e maus-olhados, seria passar ao pé do cemitério numa noite escura ou ver os fogos-fátuos que pairavam por cima das campas… Conta-se que numa noite fria e chuvosa de Inverno um garoto, para se abrigar da chuva, se escondeu debaixo da padieira da porta do cemitério. O tio Félix que Deus tenha descia a altas horas pelo adro abaixo e o petiz, em jeito de brincadeira, agarrou-se-lhe às pernas… Foi tal o susto que o coitado do homem ficou mudo por uns tempos! Mas partidas destas existiam muitas para pôr à prova a coragem dos mais afoitos ou para os mais cagarolas mostrarem alguma valentia.
Uma das estórias que ainda hoje se conta passou-se em Oleiros quando numa certa noite um homem vinha do moinho com uma saca de farinha às costas. Ao chegar ao cruzeiro de Santo André, já exausto, parou para descansar e pousou a saca em cima da raiz de um carvalho. Entretanto, passam dois homens e ele pediu se o podiam ajudar a pôr a saca às costas para continuar a sua jornada que ainda era longa. E um deles diz: - ajuda-o lá tu que morreste de umas facadas…que eu não posso pois morri de uma caganeira! Claro que o homem já nem quis ajuda nem quis levar o saco… se usava ceroulas, estas não deviam ter ficado em grande estado!
Claro está que è a matriz Celta que partilhamos com os vizinhos Galegos que nos povoa a memória de bruxas e bruxedos. O vento continua a gemer durante as noites frias mas com a iluminação das ruas e com as deslocações de carro as bruxas vêem-se menos, mas que as há, disso ninguém duvida!...
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