O Pedro Tomé tem hoje mais de meio século de existência e vive em Bragança, mas a sua meninice passou em Gondesende no bairro dó Carvalho. Parte da sua infância partilhou-a com a garotada da aldeia nas suas brincadeiras e traquinices. Nessa altura muitos usavam socos de madeira para jogar à bola e os "pitões" eram brochas marteladas que evitavam o desgaste da sola de amieiro. Mas o Pedro pouco ligava a essas coisas, a sua paixão era a malhadeira do Russo e o David Brown vermelho com que o Adérito de Oleiros a punha a trabalhar. O barulho da malhadeira amarela, o esticar da correia, o meter palha no cilindro e o ronco do trator povoavam-lhe a imaginação. Com uns trochos de couve espetados na parede da cortinha do tio Figueiredo improvisava uma malhadeira. Um pequeno feixe de erva nas mãos e muita imaginação e lá estava ele a cantarolar "... cá está a ma lha deira, brum, brum, brum brum, brum, brum..." E nós, um pouco mais novos, admiravamos o esforço e assistiamos à malha.
Naquele tempo a Autoviação Mirandelense fazia os transportes para a cidade de Bragança com as carreiras pintadas de castanho e creme. A rapaziada só distinguia aquela que tinha o motor saliente para a frente das "mochas", mais parecidas com as atuais, e sabiamos que passavam por Vinhais e iam até ao Barracão, que era para nós o fim do mundo conhecido. Como o trânsito na estrada era escasso e o roncar da carreira se distinguia do barulho dos carros ligeiros era fácil ouvir o seu ronco quando subia carregada em direção ao abrigo. O Pedro, sempre atento, mudava a cantiga e começava "...lá vem a ca reira das nove e meia, brum, brum, brum, brum..."
Depois o pai, o Chico da Ruça, mudou-se com a família para Bragança e o Pedro deixou de cantarolar pela rua dó Carvalho. O casal foi vendido e a casa dó tanque é hoje a Casa da Bica. A casa onde viviam ao pé da poça dó carvalho foi depois da tia Laucena, pessoa que também deixou marcas nas memórias da aldeia e de quem falaremos um dia.
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