A ponte nova de Maquieiros sobre o rio Baceiro num dia de inverno. |
Era Fevereiro, numa daquelas noites claras e geadeiras em que o frio aperta até fazer doer os ossos. Nesse ano o mês de Dezembro tinha sido muito chuvoso e o rio Baceiro levava ainda muita água. Mas um Janeiro mais seco e frio limpou a água e o rio corria com aquele aspecto límpido e transparente a que nos habituámos, com uma água que apetece beber. Como em casa se tinha acabado a farinha desta vez calhou-lhe a ele a ida para o moinho. O irmão ajudou a levar os sacos no carro da cria e regressou à aldeia com a promessa de voltar no dia seguinte para ajudar a levar os sacos da farinha. Já ao fim do dia e depois de picar a pedra e meter dois sacos de trigo na termoia, foi encaminhar a água para a cuba do moinho, levantou o rodizio para ajustar a moagem e começou a moer. Pela quantidade de sacos que tinha trazido, os da casa e o do vizinho que lhe pediu para moer três alqueires de trigo para fazer umas alheiras tardias, teria trabalho para se entreter toda a noite. Nesta altura do ano os dias são curtos e começou cedo a anoitecer. Previa-se uma noite clara mas fria e geadeira de lua cheia.
Ameijoeira para apanhar enguias. |
As duas trutas que já tinham sido apanhadas meteu-as no bolso da samarra ainda a estrebuchar e levou-as com ele a pensar já no escabeche que lhe iria fazer. O peixe por ali não abundava e o sardinheiro só vinha de vez em quanto. Nesses dias uma sardinha era dividida por dois. A sorte dele é que a irmã era apreciadora da cabeça e a ele tocava-lhe sempre a parte mais carnuda. Enquanto voltava para o moinho as calças molhadas na água gelada do rio começaram a ficar duras com o gelo. Já não sentia as pernas com o frio. Quando já estava perto do moinho lembrou-se das trutas que tinha visto na agueira e lá foi fazer o armadeiro e montar a ameijoeira para aumentar a pescaria. Molhou-se outra vez na água do rio e com as calças e os pés completamente gelados voltou ao moinho onde fez uma fogueira para se secar. Já era dia claro quando acordou sobressaltado. O moinho ainda moía quando se lembrou da armadilha que tinha montado durante a noite. Calçou os socos e correu para o sitio do armadeiro. As pedras continuavam no sitio onde as pusera mas da ameijoeira, nem rasto. Não se preocupou, uma noite destas voltaria ao rio para a procurar. Naquele tempo poucos eram os que não tinham já roubado ou deixado roubar uma ameijoeira...
Hoje são outras as ocupações nocturnas e as ameixoeiras, feitas em fio de algodão, lá estão, cheias de buracos, penduradas nas paredes de pedra como troféus inúteis das noites passadas ao frio.
Hoje são outras as ocupações nocturnas e as ameixoeiras, feitas em fio de algodão, lá estão, cheias de buracos, penduradas nas paredes de pedra como troféus inúteis das noites passadas ao frio.
Essa ponte nova de Maquieiros usou os pilares da antiga?
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