A aldeia vista das Barrondas num dia nublado de dezembro |
Gondesende
é a minha aldeia, não por nascimento, pois vim ao mundo na freguesia da Sé em
Bragança, mas sim por escolha consciente e voluntária. Foi lá que eu vivi
grande parte da minha infância, quer a brincar, quer a ajudar os meus tios nas
lides do campo. Lembro-me ainda quando todos jogávamos à bola nas eiras dó
cachão e das caneladas com as solas de amieiro que alguns ainda utilizavam como “chuteiras”.
Foi também lá que participei em muitas acarrejas e malhas onde nos enchíamos de pó e
praganas, que se colavam ao suor do corpo, ao som do trator vermelho do Russo Lagarelhos.
Nas noites estreladas do dia da malha deitávamos-nos de papo para o ar no chão
aquecido pelos longos dias de soalheira sobre uma manta de trapos a olhar o céu
estrelado e a sentirmos a nossa pequenez perante o universo imenso. Ao ver a
via láctea, sempre bem visível naqueles céus claros, lá vinha a estória do
caminho de Santiago e do homem que bateu na mulher por fazer a cama ao luar.
A casa da Toneca numa noite de inverno escura como breu |
Um pisco sem medo da geada matinal a cantar na lameira de à fonte dó cabo |
Sempre que
regresso a Gondesende para recuperar energia para mais uns meses de vida
urbana, revejo muitas destas pequenas estórias. Aqui as estações do ano mudam a
paisagem, as pessoas preocupam-se em colher no verão para poder ter no inverno
e, mesmo sabendo que um castanheiro ou nogueira demoram uma década a dar fruto,
continuam a plantá-los para benefício dos vindouros. Por aqui tudo vai
funcionando como sempre sem que isso sirva de exemplo para quem decide sobre a
nossa vida, lá longe, na cidade.
A
aldeia é de facto bonita, construída sobre uma colina com a fraga da Orca a sul
e Maquieiros a poente. À noite apenas as luzes de Maças, 8km em linha reta, se
conseguem ver. De dia é muito fácil ver Gondesende desde qualquer elevação em
volta da aldeia, das Barrondas, de Maquieios, da fraga de Orca ou de à Costa é
possível tirar bonitas fotografias que vou colecionando sempre que posso. Neste
Natal em todas elas era visível a grua do Humberto que sobressai a meio da
aldeia. Como em qualquer sitio um engenho destes é sinónimo de progresso e de
que alguém quer regressar e construir a sua casa para disfrutar o prazer de viver na aldeia. Mas os
dias que lá passei durante esta quadra mostraram que esta grua não passa de um
estranho monumento às divisões que, como o caruncho da madeira, vão destruindo aquilo
que foi construído como o trabalho e a participação de todos e que todos aprendemos a
admirar e estimar. Mais do que tomar partido é necessário ouvir os mais velhos e tomar os seus
conselhos pois se é verdade que já se matou por um palmo de terra também é
verdade que o direito romano tem mais de 2000 anos e é da discussão franca que nasce a
luz. Pela parte que me toca muito gostaria de ver mais uma família em
Gondesende e de poder retomar o são convívio de outros tempos, mas isto é apenas mais uma
opinião.
(Mário Vaz, Porto)
Um beijinho Bom Ano para ti e para a gente de Gondesende!
ResponderEliminarFico à espera do próximo post:-)